28/09/2009 – Jornal da Ciência
Protocolo de intenções assinado nesta segunda-feira, 28 de setembro, em Genebra, manifesta a intenção do país de criar uma associação mais formal e permanente com a instituição europeia
O documento firmado pelo ministro da C&T, Sergio Rezende, e pelo diretor-geral da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês), Rolf-Dieter Heuer, visa ampliar e consolidar as relações de pesquisa entre os cientistas brasileiros e a instituição.
Em entrevista ao JC, o ministro Sergio Rezende disse que o protocolo de intenções busca inserir o Brasil de forma mais sistemática no Cern. Atualmente, ressaltou o ministro, 71 cientistas brasileiros participam de experimentos no laboratório europeu, mas por meio de iniciativas isoladas das suas universidades e instituições de pesquisa.
“Esse documento assinado hoje manifesta a intenção firme de discutirmos uma associação formal e mais permanente entre o Brasil e o Cern”, disse Rezende.
Fazem parte do Cern, como países membros, Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Países Baixos, Hungria, Itália, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Eslováquia, Suécia e Suíça. Na categoria de observadores estão Comissão Europeia, Unesco, Índia, Israel, Japão, Rússia, Turquia e Estados Unidos.
O Brasil é um dos 28 países não membros do Cern que participam de alguns programas, mas sem regularidade. Segundo o ministro Rezende, a própria instituição busca uma participação maior de países de fora da Europa em seus projetos.
Além da assinatura do protocolo de intenções, a agenda da comitiva brasileira em Genebra incluiu visita a uma das unidades de experimentação do Large Hadron Collider (LHC), ou “grande colisor de hádrons”, maior acelerador de partículas do mundo, e reunião com cerca de 30 brasileiros que atualmente participam de estudos no Cern.
Leia o texto do documento assinado nesta segunda-feira:
“O ministro de Estado de Ciência e Tecnologia (MCT) da República Federativa do Brasil, Sergio Machado Rezende, por ocasião de sua visita à Organização Européia para Pesquisa Nuclear (Cern) em 28 de setembro de 2009, e o diretor-geral do Cern, Rolf-Dieter Heuer
Considerando a longa e produtiva relação entre o Cern e a comunidade científica brasileira, bem como o potencial para o desenvolvimento futuro dessa relação, conforme ambas as partes reafirmaram, no dia 3 de setembro de 2009, durante a reunião consultiva entre o Grupo de Trabalho sobre Expansão Científica e Geográfica e os representantes dos Estados não-Membros,
Firmam a seguinte Declaração Conjunta:
1. Reafirmamos nossa convicção de que a pesquisa em Física de Altas Energias e em áreas associadas é importante para o desenvolvimento da ciência fundamental e para o progresso científico e tecnológico;
2. Desejamos fortalecer e desenvolver ainda mais, na base da reciprocidade e do interesse mútuo, o programa de cooperação científica constante do acordo firmado em 2006 entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico do Brasil (CNPq) e o Cern. Nossa cooperação será sempre direcionada a objetivos científicos construtivos e não será empregada para propósitos militares;
3. Com a intenção de fortalecer e desenvolver nossa cooperação científica, nós devemos levar em consideração os planos de expansão geográfica e científica em elaboração e que pode ser implementada pelo Cern, assim como o objetivo de fortalecimento e consolidação da Rede Nacional de Física de Altas Energias (Renafae) do Brasil;
4. Em particular, nós concordamos em aumentar a participação de cientistas brasileiros nos laboratórios e projetos de pesquisa do Cern, para assegurar a possibilidade de pesquisas comuns de longo prazo. Ademais, o MCT está aberto a estudar a possibilidade de o Brasil se tornar um Estado Membro Associado do Cern, desde que as regras para Associação sejam compatíveis com os interesses e capacidades do Brasil;
5. Planejamos cooperar na área de aceleradores, em particular no desenvolvimento do LNLS-2 (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), a nova fonte de luz síncrotron a ser construída no Brasil, e na participação de cientistas brasileiros no desenvolvimento do sistema CLIC (Colisor Linear Compacto), no Cern;
6. Desejamos cooperar para instalar no Brasil um sistema de nível 2 de Grid no Brasil, para apoio ao programa científico do Large Hadron Collider (LHC);
7. Reiteramos nosso compromisso com o princípio de Livre Acesso aos dados e informações científicas, em especial no que diz respeito ao acesso à literatura científica;
8. Reconhecemos a importância da Escola Latino-Americana de Física de Altas Energias e nos comprometemos a apoiar a sua realização, notando que a sessão de 2011 deste evento terá lugar no Brasil;
9. Apoiamos o programa Rede ePlanet, da Comunidade Européia, que tem por objetivo financiar o intercâmbio de cientistas entre a América Latina e a Europa.
10. O MCT enfatiza seu interesse em fortalecer a cooperação entre os países da América do Sul em torno dos programas do LHC, tendo em vista tornar mais efetiva a participação de cientistas desses países.
11. O MCT se empenhará em promover participação mais ativa da indústria brasileira nos programas do Cern, utilizando as oportunidades que o Cern abre neste sentido.”