5/02/2010 – Portal Luis Nassif
Etanol de cana-de-açúcar: quando a sustentabilidade se junta à produtividade
O Brasil é reconhecido mundialmente como o país do etanol de cana-de-açúcar. Com razão, pois nenhum país industrializado até hoje conseguiu substituir o uso de gasolina na escala em que aqui foi feito e produzir praticamente metade da energia que consome a partir de fontes renováveis. Dessa metade, 16% vêm do etanol. No Estado de São Paulo, a vantagem é ainda mais marcante: 56% da energia consumida vêm de fontes renováveis, sendo 38% da cana-de-açúcar. O uso do etanol de cana permitiu que São Paulo reduzisse a participação do petróleo na matriz energética estadual de 60% para 33% nos últimos 30 anos.
Desde 1975, a estratégia geral do desenvolvimento do uso de etanol no Brasil foi pautada pelo aumento da produtividade. Efetivamente, o ganho de produtividade tem sido maior do que 3% ao ano nos últimos 40 anos, resultado de melhoramento genético da cana – com o desenvolvimento de variedades mais adaptadas a cada localidade; e do aumento da eficiência industrial da conversão de açúcar em álcool, pela melhoria dos processos de fermentação e destilação.
O crescente interesse mundial pelo uso de biocombustíveis – motivado de um lado pelas dificuldades recorrentes no fornecimento de petróleo e do outro pela crescente preocupação com a emissão de gases de efeito estufa – criou a expectativa de aumento intenso na produção de bioetanol. Um artigo científico, recentemente publicado pelo professor Rogério Cerqueira Leite e colaboradores, mostrou que o Brasil poderia fornecer etanol suficiente para substituir pelo menos 5% da gasolina usada mundialmente. Isso requererá o aumento da produção brasileira dos 22 bilhões de litros produzidos em 2006 para 102 bilhões de litros anuais.
Quando o montante da produção anual começa a assumir valores na casa das centenas de bilhões de litros, aproximando-se do trilhão de litros anuais, impõe-se o desafio da sustentabilidade – ao lado do desafio permanente da produtividade. Produzir etanol requer vários insumos, como água, terra e energia, e o aumento das quantidades pretendidas requer a análise da dependência em relação aos insumos e seu potencial efeito no meio ambiente.
Um dos pontos essenciais para a sustentabilidade é o balanço de energia, que mede quantas unidades de energia são geradas por unidade de energia de origem fóssil utilizada. Na produção de etanol, a energia fóssil é usada, por exemplo, no diesel dos caminhões que transportam a cana da plantação até a usina; ou da usina ao ponto de distribuição. Na plantação se usam tratores e caminhões que consomem mais diesel.