Página Sustentável, em 23/04/2014
Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) encontraram no trato intestinal de larvas do besouro crisomelídeo, uma nova espécie de levedura capaz de metabolizar açúcares de cinco carbonos e de secretar uma enzima de interesse em grande quantidade. A descoberta vai acelerar a fabricação de etanol 2G, uma vez que as leveduras industriais diminuem drasticamente a rentabilidade do etanol produzido.
A classe da enzima produzida pela Pseudozyma brasiliensis sp.nov, nome proposto para a nova espécie, possui alto potencial biotecnológico. Ela poder ser utilizada na degradação da fibra do bagaço da cana para a conversão de etanol de segunda geração, bem como na indústria de papel, alimentícia e de ração animal. Também serve à produção de xilitol e xilooligossacarídeos. Esse fato pode representar um avanço considerável em um dos principais entraves tecnológicos da produção de etanol de segunda geração que é a construção de coquetéis enzimáticos eficazes na degradação da biomassa.
Juliana Velasco de Oliveira, pesquisadora do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) – que pertence ao CNPEM –, explica que a atividade xilanolítica da P. brasiliensis foi cerca de 20 vezes superior a do Aspergillus niger, fungo notoriamente reconhecido pela expressão desse tipo de enzima. “A xilanase desta levedura possui uma atividade específica maior que a de qualquer outra similar já descrita”.
O estudo que levou à identificação da nova espécie de levedura foi iniciado há dois anos. Sete tipos diferentes de insetos que atuam como pragas da cana-de-açúcar (crisomelídeo, pão-de-galinha, migdolus, entre outros) foram coletados em canaviais de Ribeirão Preto. “Isolamos o conteúdo intestinal destes organismos e o cultivamos em fontes de carbono específicos, como xilano, xilose, CMC etc., para selecionar os microrganismos ali presentes que apresentassem as características de interesse. Nesse momento a Pseudozyma se destacou”, conta Oliveira.
Durante a pesquisa, foi possível comparar o material obtido com o conteúdo de bancos de dados internacionais, em busca de características típicas de espécies desse gênero. “Ao comparar os genes, encontramos diferenças suficientes para considerá-la uma nova espécie”, completa o pesquisador Diego Mauricio Riaño-Pachón.
Um dos gargalos importantes da biotecnologia, até pouco tempo, estava na produção dos dados científicos. Hoje, os pesquisadores já enfrentam outros desafios. “Atualmente, tal produção é rápida e barata. O problema agora é como você lida com grandes volumes de dados em um curto período de tempo”, destaca Riaño-Pachón.